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Vidas rurais importam? - por Rafael Ferreira

  • Foto do escritor: Pedro Vitor Lopes
    Pedro Vitor Lopes
  • 7 de jun. de 2020
  • 2 min de leitura

Qualquer cidadão que habita a zona rural de Abreu e Lima, ao se fazer essa pergunta, tomando por base para a resposta o tratamento que recebe da gestão municipal, certamente chegará à conclusão de que suas vidas são, em muitos aspectos, desvalorizadas.


Uma reflexão simples pode esclarecer como chegamos a esse desfecho: a maior parte da população vê o ato de ir às urnas, nos anos eleitorais, como algo desnecessário e sem sentido. Talvez seja bastante cômodo pensar “isso acontece porque não querem cumprir com seus papeis de cidadãos”. No entanto, vos convido a fazer outra reflexão: o poder público tem cumprido o seu papelna vida dessas pessoas?


Os serviços básicos como saúde, segurança e educação nos são ofertados de maneira precária,isso quando não são totalmente inexistentes como no caso da segurança pública. De que maneira os indivíduos poderão criar laços de pertencimentos se os mesmos não têm o mínimo das suas necessidades fundamentais atendidas pelo município? Como nos sentiremos cidadãos se somos excluídos dos projetos políticos?


Poderão dizer em suas defesas “nós temos escolas e postos de saúde nesses locais”. Nesta ocasião, lanço outro questionamento: de que vale ter estruturas identificadas enquanto unidades de saúde se nelas, na maioria das vezes, não encontramos atendimento médico e menos ainda medicações? De que vale ter prédios sucateados intitulados de escolas, que obrigam gestores e professores a lidar com os improvisos, interferindo negativamente no processo de ensino/aprendizagem? E o que falar da segurança pública? Só vemos uma viatura policial se vier do município vizinho para pegar “um cozinhado de macaxeira” dos nossos roçados.

Meus conterrâneos poderão dizer que esses problemas não são exclusivos de quem reside na zona rural e concordaremos com tal afirmação; porém devemos vos lembrar de que contamos com o agravante da total ausência de transporte público de qualquer espécie e das longas distâncias percorridas para se dirigir ao centro da cidade para resolver nossas pendências. Também devemos nos lembrar que não se legitima descasos governamentais apelando para a generalização dos seus tentáculos.


Somos mais do que meros fornecedores de gêneros alimentícios. Somos produtores de cultura e conhecimento! A ignorância (que tentam apresentar como exclusividade da área rural) está enraizada no seio da sociedade e a existência da mesma se converte no maior expoente do histórico fracasso (intencional?) das gestões municipais em executar projetos de educação e qualificação dos seus munícipes.


Nossa reivindicação não é por igualdade, haja vista que nossas necessidades e demandas são distintas das de quem mora nas áreas urbanas. Nossa luta é por equidade, pelo reconhecimento das nossas realidades e por criação de políticas públicas específicas que tenham como finalidade a superação das problemáticas locais, respeitando nossas particularidades.


Rafael Ferreira Francisco, 24 anos. Graduado em História, morador da área rural de Abreu e Lima e cofundador do Coletivo Movimente em Chã de Cruz.

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