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Onde está nossa identidade? - Por Vinícius Soares Ferreira

  • Foto do escritor: Pedro Vitor Lopes
    Pedro Vitor Lopes
  • 1 de dez. de 2019
  • 2 min de leitura

Moro em Abreu e Lima há vinte anos, nunca chamei outro lugar de casa a não ser o Alto São Miguel, bairro da cidade. Costumo dizer que desde sempre vivo na mesa rua, tenho os mesmos vizinhos e os nossos laços são como uma grande família.

A vida por aqui sempre foi uma contradição: carregamos o nome do general liberador da América Latina, aqui também se deu o primeiro capitulo da Revolução Praieira, abrigamos o Frei Caneca, temos o 14º maior PIB do estado, temos um grande e rico Sítio Arqueológico, as Ruínas de São Bento, áreas de Mata Atlântica belíssimas, e um mangue cheio de vida; mas parece que se identificar com a cidade e com todas as suas características incríveis sempre foi muito difícil. E assim ficamos distantes, sem muita conexão, sem a importante e necessária sensação de pertencimento.


Tenho que apontar, então, o quanto é sintomático viver num lugar e não construir uma identidade com ele, ou não perceber os seus elementos identitários. Quando fiz o intercâmbio para o Chile (oportunidade que vivi por meio de programas sociais) percebi na volta à Abreu e Lima o quanto o choque cultural provocou estranheza em mim em relação ao lugar onde eu cresci. Os quase cinco meses que passei em Llay-Llay (cidade chilena) foram suficientes para perceber como a questão da identidade e pertencimento são fortes naquele lugar. E porque aqui em Abreu e Lima seria diferente, então?


Isso me fez questionar em qual lógica de cidade eu estava inserido. Toda vida pulsante parece acontecer fora da nossa cidade. As pessoas saem para estudar, para trabalhar, para curtir momentos de lazer, e depois retornam às suas casas para dormir. As praças públicas por vezes são apenas espaços vazios, as políticas públicas para o desenvolvimento da cidade são escassas, e muitos moradores afirmam o desejo de sair, de se mudar de Abreu e Lima para outro município. Chega a ser violenta a ausência de debate do poder público com a sociedade civil para apresentar um projeto de cidade ampliada, que respeite seus diversos segmentos, que dialogue efetivamente com a vontade dos cidadãos em viver a cidade, em se identificar com ela e construir boas expectativas de futuro.


Se você chegar a qualquer cidadão abreulimense e perguntar qual a identidade da cidade ou qual a sua identificação com ela, possivelmente a resposta será um silêncio ensurdecedor, resultante da carência de diálogos e debates não humanizados na cidade e sobre a cidade.

A terra do Mestre Cirandeiro Antônio Baracho parece não saber do quanto é potente e de como o seu território é vasto, a sua história rica, e o seu povo forte. Daí uma questão se torna urgente: até quando viveremos essa realidade sem diálogo humano, sem construção coletiva de uma cidade mais viva? Até quando suportaremos não discutir isso tudo que é essencial para a nossa ideia de identidade?

Penso que já chegou hora de dialogar e construir isso tudo. E a hora é agora!


*Vinícius Soares Ferreira é morador do Alto São Miguel, estudante de direito coordenador dos projetos Coletivo21, Por Uma Cidade Mais Humana e EducAbreu,






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